A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA: ORIGEM E EVOLUÇÃO – PARTE 1 – HISTÓRIA - MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
Trechos da carta DE PERO VAZ DE CAMINHA(...)
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que cobrisse sua vergonhas.
Nas mãos traziam arcos com sua setas. Vinham todos rijamente sobre o
batel, e Nicolau Coelho lhes fez sinal que posassem os arcos. E eles os
pousaram (...) A feição é serem pardos, maneira de avermelhados, de
bons rostos e bons narizes, bem feitos (...) Não fazem o menor caso de
encobrir ou mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em
mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos
neles seus ossos brancos e verdadeiros, do comprimento de uma mão
travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudo nas pontas como furador
(...) Os cabelos são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta
(...) E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para
trás, uma espécie de cabeleira de penas de aves amarelas (...) Isto me
faz presumisse que não têm casas nem moradas a que se acolham, e o ar,
que se criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora vimos casa alguma ou
maneira delas (...)(...) Eles
não lavram, nem criam. Não há aqui boi nem vaca, nem cabra, nem
ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao
viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e
dessa semente de frutos, que a terra e as árvores de si lançam, e com
isto andam tais e tão rijos e tão médios que o não somos nós tanto com
quanto trigo e legumes comemos (...)(...)
Está terra, senhor, será tamanha que haverá nela bem vinte ou 25 légua
por mar, muito grande, porque a estender olhos, não podíamos ter senão
terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não
pudemos saber se há ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro
nem o vimos. Porém a terra em si é de muito nos ares, assim frios e
temperados, como os de entre Doiro e Minho, porque nesse tempo de agora
os achávamos como os de lá. As águas são muitas, infinitas. Em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por
causa das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar,
me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que Vossa Alteza nela deve lançar.E aqui aí
não houvesse mais que ter esta pousada para esta navegação de Calicute,
isso bastaria. Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o
que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentando da nossa santa
fé.E nesta maneira, Senhor., vou aqui a Vossa Alteza contar do que nesta terra vi.Deste Porto Seguro, de vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.(Pero Vaz de Caminha)
18 de março de 2010 10:31
SêmenMestre AmbrósioComposição: Siba e Bráulio TavaresNos antigos rincões da mata virgemFoi um sêmen plantado com meu nomeA raiz de tão dura ninguém comePorque nela plantei a minha origemQuem tentar chegar perto tem vertigemEnsinar o caminho, eu não seiDas mil vezes que por lá eu passeiNunca pude guardar o seu desenhoComo posso saber de onde venhoSe a semente profunda eu não toquei?Esse longo caminho que eu traçoMuda contantemente de feiçãoE eu não posso saber que direçãoTem o rumo que firmo no espaçoTem momentos que sinto que desfaçoO castelo que eu mesmo levanteiO importante é que nunca esquecereiQue encontrar o caminho é meu empenhoComo posso saber de onde venhoSe a semente profunda eu não toquei?Como posso saber a minha idadeSe meu tempo passado eu não conheçoComo posso me ver desde o começoSe a lembrança não tem capacidadeSe não olho pra trás com claridadeUm futuro obscuro aguardareiMas aquela semente que sonheiÉ a chave do tesouro que eu tenhoComo posso saber de onde venhoSe a semente profunda eu não toquei?Tantos povos se cruzam nessa terraQue o mais puro padrão é o mestiçoDeixe o mundo rodar que dá é nissoA roleta dos genes nunca erraNasce tanto galego em pé-de-serraE por isso eu jamais estranhareiSertanejo com olhos de nisseiCantador com suingue caribenhoComo posso saber de onde venhoSe a semente profunda eu não toquei?Como posso pensar ser brasileiroEnxergar minha própria diferençaSe olhando ao redor vejo a imensaSemelhança ligando o mundo inteiroComo posso saber quem vem primeiroSe o começo eu jamais alcançareiTantos povos no mundo e eu não seiQual a força que move o meu engenhoComo posso saber de onde venhoSe a semente profunda eu não toquei?E euNão sei o que fazerNesta situaçãoMeu pé...Meu pé não pisa o chão.
18 de março de 2010 10:54
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