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Um
museu é, na definição do
International Council of Museums (ICOM, 2001),
"uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade
e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva,
investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu
entorno, para educação e deleite da sociedade".
Os museus tiveram origem no hábito humano do
colecionismo, que nasceu junto com a própria
humanidade. Desde a
Antiguidade
remota o homem, por infinitas razões, coleciona objetos e lhes atribui
valor, seja afetivo, cultural ou simplesmente material, o que justifica a
necessidade de sua preservação ao longo do tempo. Milhares de anos
atrás já se faziam registros sobre instituições vagamente semelhantes ao
museu moderno funcionando. Entretanto, somente no século XVII se
consolidou o museu mais ou menos como atualmente o conhecemos. Depois de
outras mudanças e aperfeiçoamentos, hoje os museus, que já abarcam um
vasto espectro de campos de interesse, se dirigem para uma crescente
profissionalização e qualificação de suas atividades, e se caracterizam
pela multiplicidade de tarefas e capacidades que lhes atribuem os
museólogos e pensadores, deixando de ser passivos acúmulos de objetos para assumirem um papel importante na interpretação da cultura e na
educação do homem, no fortalecimento da
cidadania e do respeito à diversidade cultural, e no incremento da
qualidade de vida.
Porém, muitos dos conceitos fundamentais que norteiam os museus
contemporâneos ainda estão em debate e precisam de clarificação.
História
Apesar da origem clássica da palavra
museu - do grego
mouseion
- a origem dos museus como locais de preservação de objetos com
finalidade cultural é muito mais antiga. Desde tempos remotos o homem se
dedica a colecionar objetos, pelos mais diferentes motivos. No
Paleolítico
os homens primitivos já reuniam vários tipos de artefatos, como o
provam achados em tumbas. Porém, um sentido mais próximo do conceito
moderno de museu é encontrado somente no segundo milênio a.C., quando na
Mesopotâmia se passou a copiar inscrições mais antigas para a educação dos jovens. Mais adiante, em
Ur, os reis
Nabucodonosor e
Nabonido
se dedicaram à coleção de antiguidades, e outra coleção era mantida
pelos sacerdotes anexa à escola do templo, e onde cada obra era
identificada com uma cartela, semelhante ao sistema expositivo atual.
1
Na
Grécia Antiga o museu era um templo das
musas,
divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a
tragédia, a comédia, a dança e a astronomia. Esses templos, bem como os
de outras divindades, recebiam muitas oferendas em objetos preciosos ou
exóticos, que podiam ser exibidos ao público mediante o pagamento de uma
pequena taxa. Em
Atenas se tornou afamada a coleção de pinturas que era exposta nas escadarias da
Acrópole no século V a.C. Os
romanos
expunham coleções públicas nos fóruns, jardins públicos, templos,
teatros e termas, muitas vezes reunidas como botins de guerra. No
oriente, onde o culto à personalidade de reis e heróis era forte,
objetos históricos foram coletados com a função de preservação da
memória e dos feitos gloriosos desses personagens. Dos museus da
Antiguidade, o mais famoso foi o criado em
Alexandria por
Ptolomeu Sóter
em torno do século III a.C., que continha estátuas de filósofos,
objetos astronômicos e cirúrgicos e um parque zoobotânico, embora a
instituição fosse primariamente uma academia de filosofia, e mais tarde
incorporasse uma enorme coleção de obras escritas, formando-se a célebre
Biblioteca de Alexandria.
2
Ao longo da
Idade Média a noção de museu quase desapareceu, mas o
colecionismo
continuou vivo. Por um lado os acervos de preciosidades eram
considerados patrimônio de reserva a ser convertido em divisas em caso
de necessidade, para financiamento de guerras ou outras atividades
estatais; outras coleções se formaram com objetos ligados ao culto
cristão, acumulando-se em catedrais e mosteiros quantidades de relíquias de santos, manuscritos
iluminados e aparatos litúrgicos em metais e pedras preciosas.
3 No
Renascimento, com a recuperação dos ideais clássicos e a consolidação da
humanismo, ressurgiu o colecionismo privado através de grandes banqueiros e comerciantes, integrantes da
burguesia
em ascensão, que financiavam uma grande produção de arte profana e
ornamental e se dedicavam à procura de relíquias da Antiguidade. Algumas
coleções se tornaram célebres pela sua riqueza, como a dos
Medici, em
Florença;
reis, nobres e burgueses abastados de toda a Europa competiam na
propaganda de suas coleções e mantinham círculos de eruditos em arte,
filosofia e história em seu redor, onde se debateram ideias influentes e
se conceberam novos métodos educativos, como o
academismo.
3 4
A primeira ilustração de um gabinete de curiosidades, publicada por Ferrante Imperato em
Dell'Historia Naturale, Nápoles, 1599
Entre os séculos XVI e XVII, com a expansão do conhecimento do mundo propiciado pelas
grandes navegações, se formaram na Europa inúmeros
gabinetes de curiosidades,
coleções altamente heterogêneas e assistemáticas de peças das mais
variadas naturezas e procedências, incluindo fósseis, esqueletos,
animais empalhados, minerais, curiosidades, aberrações da natureza,
miniaturas, objetos exóticos de países distantes, obras de arte,
máquinas e inventos, e toda a sorte de objetos raros e maravilhosos.
Tais gabinetes tiveram um papel importante na evolução da
história e da
filosofia natural especialmente ao longo do século XVII.
5 Na mesma época proliferaram as
galerias
palacianas, dedicadas à exposição de esculturas e pinturas. Mas tanto
os gabinetes como as galerias ainda estavam essencialmente dentro dos
círculos privados, inacessíveis à população em geral.
4 Movidas por interesses científicos foram fundadas inúmeras sociedades e instituições, como os
jardins botânicos de
Pisa (1543) e o de
Pádua (1545), a
Real Sociedade de
Londres (1660) e a
Academia de Ciências de
Paris (1666), que reuniam suas próprias coleções.
3 No
Brasil a primeira coleção de que se tem notícia foi formada pelo colonizador neerlandês conde
Maurício de Nassau, cuja corte se notabilizou pelo brilho científico e cultural, instalando-a em torno de 1640 no
Palácio de Friburgo, em
Recife, semelhante em caráter aos gabinetes de curiosidades.
6
O museu moderno
Nessa tendência, apareceu em
Basileia em 1671 o primeiro museu universitário,
4 e na
Inglaterra, em 1683, aquele que é considerado o primeiro museu moderno com objetivo declarado de educar o público, o
Museu Ashmolean, criado pela
Universidade de Oxford.
Seu acervo era eclético e se assemelhava aos antigos gabinetes de
curiosidades, procedente de várias partes do mundo, reunido pela família
Tradescant e previamente exibida em sua casa de Londres.
7 Pouco mais adiante, o espírito enciclopédico dos
iluministas
fortaleceu a associação do conhecimento com a razão, a ordem e a moral,
favorecendo a formação de acervos sistemáticos e a atuação de
instituições culturais com objetivos educativos e públicos.
3 Outros importantes museus fundados no século XVIII foram o
Museu Britânico, aberto em Londres em 1759, e o
Museu do Louvre, em Paris, em 1793, ambos iniciativas do governo de seus países. O exemplo europeu, por força do
colonialismo, frutificou também em outros países do Oriente e na América. Em
Jacarta
a Sociedade de Artes e Ciência de Batavia iniciou uma coleção em 1778,
que evoluiu para se tornar o Museu Central da Cultura Indonésia. Na
Índia
ocorreu o mesmo, sendo o primeiro museu, o Museu Indiano, fundado em
1784 a partir das coleções reunidas pela Sociedade Asiática de Bengal.
Ambos enfocavam as artes e ciências e se dedicavam ao fomento do
conhecimento. Nos
Estados Unidos a Charleston Library Society da
Carolina do Sul
em 1773 anunciou sua intenção de formar uma coleção de produtos
naturais para alavancar a agricultura e a medicina da província.
7
No século XIX o museu continuou sua transformação, expandindo seus
horizontes para incluir novas categorias e temas, e progressivamente
abandonando o simples colecionismo para enfatizar a exibição e
catalogação rigorosamente sistemáticas, tendência iniciada na
Alemanha e
Suíça,
onde se introduziram experimentos de exibição sistematizada abrangendo
vastos períodos históricos, possibilitando ao público percorrer roteiros
que ofereciam panoramas de toda a história e cultura da humanidade, ao
mesmo tempo em que reservavam seções para apresentação das mais recentes
conquistas da ciência e tecnologia. As grandes
feiras e exposições universais que se realizaram a partir da década de 1850, como as de Londres, Paris e
Filadélfia,
faziam parte deste fascínio com o progresso e com o conhecimento
enciclopédico, e serviram além disso para modernizar as práticas de
exposição dos próprios museus formais. O museu também desempenhou um
papel na onda
nacionalista romântica,
contribuindo para a conscientização popular e a construção de
identidades nacionais, acervando objetos ligados ao patrimônio cultural
das nações, podendo-se citar como exemplo o Museu Nacional de
Budapeste
(1802), construído com dinheiro de impostos voluntários e mais tarde
identificado com a luta para a independência local. Pelos mesmos motivos
aparece uma profusão de museus regionais e locais, voltados para os
interesses de pequenas áreas geográficas. Com a perene expansão das
coleções logo tornou necessária a fundação de museus especializados em
determinadas áreas do conhecimento, como o Museu da Ciência de Londres e
o Museu Tecnológico em Viena. Multiplicam-se neste século também os
museus ao ar livre, depois do exemplo pioneiro do Museu Nórdico em
Estocolmo, que preservou edificações típicas e históricas, e incluindo neste grupo os museus
in situ em sítios arqueológicos.
8
Contemporaneidade
As práticas colecionistas antigas eram caracterizadas acima de tudo
por uma postura passiva diante da sociedade, seguindo critérios
aquisitivos e administrativos vagos e em muito arbitrários, que
vigoraram até meados do século XX.
9 Nesta altura os museus entraram em uma séria crise conceitual e, como disseram Chagas & Chagas, passou-se a criticar
"o
caráter aristocrático, autoritário, acrítico, conservador e inibidor
dessas instituições, consideradas como espécie em extinção e, por isso
mesmo, apelidadas de 'dinossauros' e de 'elefantes brancos' ".
10
A partir de então se procurou um aprofundamento científico da definição
e das potencialidades de atuação ativa, interdisciplinar e educativa
dos museus. Depois de algum retrocesso, a reformulação conceitual ganhou
novo impulso a partir dos anos 70-80, sendo lícito considerar esta
reorientação como uma verdadeira revolução na concepção do museu público
e como a fundação da
museologia moderna.
9 Cristina Bruno sintetizou a transformação dizendo:
-
- "De instituições elitistas, colonizadoras, sectárias e
excludentes, os museus têm procurado os caminhos da diversidade
cultural, da repatriação das referências culturais, da gestão partilhada
e do respeito à diferença de forma objetiva e construtiva. De
instituições paternalistas e autoritárias, os museus têm percorrido os
árduos caminhos do diálogo cultural e da convivência com o outro. De
instituições isoladas e esquecidas, os museus têm valorizado a atuação
em redes e sistemas, procurando mostrar a sua importância para o
desenvolvimento socioeconômico. De instituições devotadas exclusivamente
à preservação e comunicação de objetos e coleções, os museus têm
assumido a responsabilidade por ideias e problemas sociais".9
A definição do que é um museu, de fato, e em especial o que deve ser
um museu do século XXI, é complexa e permanece envolta em grande
controvérsia. Como ponto de partida, cite-se a dada pelo
International Council of Museums (ICOM), respeitadíssimo órgão internacional, na sua 20.ª Assembleia Geral, em 6 de julho de 2001: o museu é uma
"instituição
permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu
desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga,
difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para
educação e deleite da sociedade". Podemos encontrar também definições poéticas, como a oferecida pelo
Instituto Brasileiro de Museus, instância museológica máxima no Brasil:
"Os
museus são casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos,
pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons
e formas. Os museus são pontes, portas e janelas que ligam e desligam
mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. Os museus são conceitos e
práticas em metamorfose."11 De acordo com a
Política Nacional de Museus, os museus, mais do que instituições estáticas, são
"processos a serviço da sociedade", e são instâncias fundamentais para o aprimoramento da
democracia, da inclusão social, da construção da identidade e do conhecimento, e da percepção crítica da realidade.
12 Já o
IPHAN, instância superior do patrimônio histórico e artístico brasileiro, dá a seguinte definição:
11
-
- "O museu é uma instituição com personalidade jurídica própria ou
vinculada a outra instituição com personalidade jurídica, aberta ao
público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento e que apresenta
as seguintes características:
-
-
- "I - o trabalho permanente com o patrimônio cultural, em suas diversas manifestações;
-
-
- "II - a presença de acervos e exposições colocados a serviço da
sociedade com o objetivo de propiciar a ampliação do campo de
possibilidades de construção identitária, a percepção crítica da
realidade, a produção de conhecimentos e oportunidades de lazer;
-
-
- "III - a utilização do patrimônio cultural como recurso educacional, turístico e de inclusão social;
-
-
- "IV - a vocação para a comunicação, a exposição, a documentação, a
investigação, a interpretação e a preservação de bens culturais em suas
diversas manifestações;
-
-
- "V - a democratização do acesso, uso e produção de bens culturais para a promoção da dignidade da pessoa humana;
-
-
- "VI - a constituição de espaços democráticos e diversificados de relação e mediação cultural, sejam eles físicos ou virtuais.
-
- "Sendo assim, são considerados museus, independentemente de sua
denominação, as instituições ou processos museológicos que apresentem as
características acima indicadas e cumpram as funções museológicas.11
Pela voz de pensadores independentes o museu assume hoje dimensões extremamente variadas e abrangentes.
Walter Benjamin acreditava que os museus são
"espaços que suscitam sonhos";
André Malraux, pensava que os museus são locais que
"proporcionam a mais elevada ideia do homem";
13 Duncan Cameron disse que os museus ocupam os dois extremos de um espectro que vai de "
templo" a "
fórum",
e vários outros teóricos vêm expandindo e enfatizando as múltiplas
capacidades e possibilidades dos museus para um enriquecimento geral no
conhecimento, na qualidade de vida, na formação da consciência política e
social da população, entre uma infinidade de outros benefícios. Já
existe inclusive uma corrente que afirma que o mundo é todo ele um vasto
museu, explodindo as definições que confinam o museu a uma instituição
localizada no tempo-espaço e passando a ver toda a vida e civilização
humanas como passíveis de musealização.
14 15 16
Outros chegam a duvidar que o museu tenha um lugar em nosso futuro;
entretanto, surgem dezenas de novos museus todos os meses ao redor do
mundo, predominando os de arte contemporânea, antropologia e ciências.
17 Com o advento da
internet e dos processos computadorizados, o museu pôde inclusive se catapultar para o
ciberespaço e a
realidade virtual. Não bastasse, já se discute até o conceito de um "Museu do Futuro".
16 18 19
Se a constante produção de conhecimento especializado pelas academias
exige dos museus contemporâneos uma perpétua renovação e
aperfeiçoamento, essa pressão pela qualificação e profissionalização com
um rigor científico, cobiçando avidamente uma visitação cada vez maior,
mais o desejo de "musealizar tudo", já são sentidos como tendências que
podem inviabilizar economicamente os museus dentro em breve, e até
desvirtuar suas funções essenciais, tornando-os poços-sem-fundo para os
recursos públicos, ou podendo fazê-los cair na tentação da
espetacularização e banalização de seus eventos a fim de atrair maior
plateia e obterem mais rendas, sem que isso, conforme apontam as
pesquisas, reverta em real proveito cultural para este público, nem
contribua para formar visitantes mais assíduos.
17 20 Nas palavras de Lara Filho,
-
- "As novas questões colocadas aos museus não se esgotam nas
apontadas acima. Em palestra do Fórum Permanente, Stijn Huijts, diretor
do Museu Het Domein da cidade holandesa de Sittard, apontou desafios
contemporâneos para os museus e, dentre eles, os relativos às difíceis
relações com os patrocinadores – sejam eles empresas privadas ou
estatais -, os relacionados ao respeito à diversidade cultural e às
particularidades locais. Para ele, 'museus são instituições científicas
com uma tarefa pública e não vice-versa (ou seja, o museu não é uma
instituição pública com tarefa científica)' Já para Jorge Wagensberg, do
Museu de Ciências de Barcelona, 'para despertar a curiosidade
científica um museu tem que emocionar. Seduzir o visitante para os
mistérios da realidade é a melhor forma de fazer com que ele queira
entender a realidade'.... Um museu do século XXI, seja criado agora ou
não, será aquele que se comprometer com aspectos da cultura
contemporânea. Não se trata apenas de assimilar as novas técnicas e
tecnologias mas de estruturar políticas culturais inovadoras e
estimulantes.... A finalidade última do museu é trazer algum tipo de
benefício às pessoas e provocar mudanças em suas vidas, e não ser
simplesmente uma casa de custódia para obras de arte ou um centro
erudito. Isto implica num constante questionamento de suas funções e
propósitos."17
Estrutura e funcionamento
Administração geral
Dada a complexidade das atividades museológicas, um museu geralmente
se divide em vários setores, atendidos, conforme exige a regulamentação
recente, por profissionais plenamente qualificados para as suas funções.
O diretor do museu é antes de tudo um administrador competente, não é
fundamental que ele seja um erudito na área coberta pelo museu, pois em
geral ele tem uma equipe de profissionais especializados em diversas
tarefas particulares a fim de o assessorar. O diretor responde por todo o
trabalho da instituição e é o seu principal
relações-públicas,
e por isso também o maior captador de recursos através de seu
relacionamento com os patrocinadores e o maior estabelecedor de
intercâmbios culturais entre diferentes instituições. O diretor é também
o responsável final pela elaboração do Plano Diretor do museu, onde se
define e detalha a Missão da instituição, e fiscaliza sua implementação.
Se o museu possuir um Conselho Consultivo ou outra instância
consultiva/deliberativa, o diretor as preside. O diretor possivelmente
terá um corpo de funcionários administrativos próximo a si para
distribuir tarefas de gestão de recursos humanos e financeiros e de
assessoria jurídica, bem como permanece em contato constante com seus
subordinados diretos de cada setor, a fim de orientar os trabalhos
diários. O diretor deve por fim zelar pela perfeita integração e
harmonia entre todos os setores e funcionários.
21 22 23 24
Plano Diretor
Ao se lançar a diretriz principal a equipe pondera sobre vários
aspectos, entre eles: Que tipo de museu se vai constituir? É um museu
temático? É um museu histórico, artístico, etnológico, etc? Que tipo de
peça vai ser aceita? Há condições de conservar e exibir adequadamente a
coleção? Há pessoal suficiente e preparado para geri-la? Qual o
propósito da coleção? Como se pretende expandi-la? Que público se deseja
atingir, e como se poderá fazer isso? Como o museu vai se apresentar e
inserir na vida de sua comunidade? Quais laços se estabelecerão com
outras instituições similares, pesquisadores, mantenedores,
patrocinadores e parceiros, e como eles serão administrados? Como serão
captados e geridos os recursos financeiros? Como se definirá a estrutura
administrativa e técnica?... e assim por diante. Nenhuma dessas
perguntas pode ser respondida rápida e superficialmente, e exige longa e
madura meditação e minucioso planejamento, envolvendo um grande número
de profissionais especializados. Além disso, é importante tentar
projetar a atuação do museu no futuro, criando-se um plano que possa
pelo menos em tese permanecer válido por um longo período, a fim de se
evitar mudanças frequentes de rumo que prejudicariam seu bom
funcionamento e tornariam a filosofia da instituição confusa e
irresponsável aos olhos do público e dos especialistas, perdendo
prestígio e credibilidade. Isso não quer dizer que ao longo da história
do museu não haja adaptações e atualizações, mas uma linha curatorial e
administrativa bem embasada e consolidada e razoavelmente estável é um
elemento-chave na sua afirmação como instituição de respeito.
21 22 25 24
A direção frequentemente se depara com desafios
éticos
no desempenho de suas funções, especialmente os relacionados ao uso de
verbas, aquisição de novos itens, publicidade pessoal, gerenciamento de
recursos humanos, intercâmbios culturais e harmonização das necessidades
do museu com a legislação vigente em cada país. Cada administrador
precisa se adequar às demandas e usos locais, levando em consideração
também as práticas internacionais. Estes casos são previstos no Plano
Diretor em detalhe, acompanhando as orientações dadas pelo ICOM em seu
Código de Ética para Museus.
26 27 28
Acervo
A criação e manutenção de um acervo museológico é uma tarefa
trabalhosa, dispendiosa, complexa e ainda em processo de estudo e
aperfeiçoamento. Muitas questões fundamentais ainda estão sendo
discutidas pelos especialistas, e em muitas delas ainda não se formaram
consensos ou regulamentações definitivas. Todo esse campo está em rápida
expansão e contínua transformação.
29
O acervo representa o núcleo vital de todo museu, e em torno do qual
giram todas as suas outras atividades. O acervo idealmente é gerido por
um
curador,
ou por uma equipe de curadores, que tem a função de manter organizada e
em bom estado a coleção em seus depósitos, define conceitualmente e
organiza as exposições ao público, e supervisiona as atividades de
documentação e pesquisa teórica sobre a coleção a fim de produzir novo
conhecimento. O curador também tem um papel decisivo nos processos de
aquisição e descarte de peças. O curador é o responsável pela gestão do
acervo segundo o que foi definido no Plano Diretor do museu, que conta
com uma seção especialmente dedicada à Política de Acervo, como está
previsto no
Código de Ética para Museus.
25
Aquisição e documentação
Cada museu adota sua própria política de aquisições, mas, como foi
dito, a cada dia crescem as exigências de especialização e
profissionalismo. Neste sentido, no processo de aquisição de peças a
tendência é a de se abandonar todo diletantismo e inconsequência e
convocar a intervenção de conhecedores. Cada peça proposta para
incorporação ao acervo é então avaliada por um curador competente, que
faz suas escolhas em sintonia com a direção do museu, e de acordo com a
política em vigor na instituição e com as normas e parâmetros
internacionais que regem sua atuação. Assim, é essencial que desde o
início se delineiem e consagrem formalmente os critérios de aquisição
que o museu vai seguir, pois desta decisão emergirá o rosto da coleção e
sua utilidade pública.
22 30 31
Na maior parte dos grandes museus contemporâneos a avaliação prévia
não é feita por apenas um indivíduo, o curador, mas por uma equipe
curatorial, composta de vários membros qualificados, incluindo pelo
menos um curador propriamente dito, um conservador/restaurador e um
educador, além do diretor da casa, o que minimiza em muito a
possibilidade de erros de avaliação. O avaliador leva em conta em suma a
autenticidade e qualidade da peça, a importância de seu autor (se
houver autoria), seu estado de conservação, seu custo de aquisição e
manutenção, sua origem e situação legal, sua pertinência para o perfil
do acervo que se deseja reunir e sua potencial utilidade para projetos
educativos e pesquisas futuras.
31 24
Aprovada a peça, antes de ser recebida no acervo ela é higienizada e
desinfectada, e conforme o parecer do conservador, pode ser necessário
um período de
quarentena, a fim de se detectar e eliminar contaminantes ou pragas que possam se transmitir para o resto da coleção.
24
A seguir ela é documentada, ou seja, catalogada no sistema de registro
empregado pela instituição, e só depois ela ingressa nos depósitos do
museu. Nas palavras de Yassuda,
-
- "A documentação museológica representa um aspecto da gestão dos
museus destinada ao tratamento da informação em todos os âmbitos, desde a
entrada do objeto no museu até a exposição, envolvendo tarefas de
coleta, armazenamento, tratamento, organização, disseminação e
recuperação da informação. Considerando os documentos como registros da
atividade humana, a documentação serve como instrumento de comunicação e
preservação da informação no âmbito da memória social e da pesquisa
científica".32
Na catalogação do acervo as informações são compiladas de uma variedade
de documentos relacionados a cada peça do acervo, como fotografias,
laudos de conservação, fichas descritivas, atestados de participação da
peça em exposições, contratos de aquisição, etc
Detalhe de um catálogo digitalizado
O catálogo inclui pelo menos um documento básico: o livro-tombo (LT),
mas ele raramente é suficiente na dinâmica de um museu contemporâneo, e
precisa ser complementado por um sistema auxiliar, geralmente um
arquivo informatizado e/ou fichas impressas. O LT é um elenco de todas
as peças da coleção, inscritas em tinta indelével em um livro especial
de registro arquivístico. É um documento formal e oficial de valor
histórico, referencial e jurídico. A inscrição no LT equivale à certidão
de nascimento da peça na coleção, é um documento permanente, não deve
ter erros nem ser modificado. Os registros do LT são sucintos, incluindo
geralmente apenas a numeração das peças por ordem de entrada na coleção
(número de tombo), o nome do autor (se houver), título da peça, data,
dimensões, forma de entrada e uma breve descrição da peça, além de uma
rubrica do responsável pelo registro.
31
O registro informatizado, por ser um meio de manejo fácil e
possibilitando pronta modificação e recuperação de dados, é talvez a
mais prática forma de documentação para uso diário, e deve, ao contrário
do LT, incluir uma descrição detalhada e completa de cada peça. De
qualquer forma, o registro informatizado deve ser copiado periodicamente
e a cópia mantida em local seguro e diferente do local onde está o
original, devidamente identificada e datada. Se o original for perdido a
recuperação das informações será possível. Ainda não existe uma
padronização das formas de documentação, e cada instituição estabelece a
sua. O importante é que ela, qualquer que seja, armazene e
disponibilize com facilidade de consulta uma informação minuciosa sobre
cada peça. Isso inclui uma série de dados: número de tombo; título;
data; dimensões; número de edição (para séries e múltiplos); local de
produção; transcrição de inscrições, números e marcas; nome do autor;
data e local de nascimento e morte, endereço da última residência
conhecida, fone/email de contato; forma de entrada (doação, compra,
coleta em campo, etc); posse ou não de
direitos autorais,
com detalhamento de restrições de reprodução, etc; descrição física
detalhada da peça; instruções especiais para montagem, conservação e
exposição; localização permanente e localização temporária; histórico
detalhado (procedência, exposições de que participou, empréstimos,
antigos proprietários, prêmios, etc, e, conforme o caso, descrição do
sítio e dos procedimentos empregados em sua coleta de campo); histórico
físico da peça (danos, decaimento, relatórios de restauros, etc);
análise estético/formal; transcrição integral de documentação original
associada (incluindo certificados de propriedade, recibos e contratos de
compra e venda, textos críticos que recebeu e registro de aparecimento
em catálogos, reportagens e publicações - e se possível obtendo para o
museu a própria posse de tais documentos); fotografias em vários
ângulos, com atenção a detalhes como marcas, danos, inscrições, etc; e
quaisquer outros dados de interesse para a identificação, estudo,
divulgação e conservação da coleção. Nem sempre todas essas informações
serão conhecidas ou disponíveis, mas deve ser feito um esforço para
deixá-las o mais completas possível.
31 24
Todas essas informações podem ser impressas em fichas individuais
para cada peça, que serão arquivadas para garantia do registro caso haja
falha nos computadores com perda ou corrupção dos arquivos digitais. As
fichas podem, por outro lado, considerando a atualização constante de
certas categorias de dados, ser impressas apenas como um formulário
básico, a ser preenchido à mão e eventualmente corrigido se necessário,
mas todas as informações do registro informatizado devem ser
transportadas para as fichas; não pode haver discrepância entre as duas
versões documentais. É possível também fazer o caminho inverso: tomar as
fichas como registro primário e só depois levar os dados para o
computador. Cada instituição deve decidir o método de registro como lhe
parecer mais prático, completo e seguro. É sobremaneira importante
reunir todos os dados possíveis no momento da coleta ou aquisição, pois
mais tarde pode ser impossível obtê-los.
31 24
Conservação e restauro
A Reserva Técnica (RT), ou Depósito, é a área onde a coleção
permanece quando não está sendo exibida ao público. Mais uma vez, as
condições deste local variam conforme o tipo de objeto preservado no
museu, sendo que cada tipo de material tem exigências específicas de
conservação. Segundo Mirabile, os critérios que devem nortear a
construção da Reserva são funcionalidade, facilidade de consulta,
condições de preservação e segurança.
33
A conservação museológica tem bases estritamente científicas e não é
produto do acaso ou do capricho. Os conservadores não objetivam manter
um objeto em boas condições por dois ou três anos apenas, nem por apenas
dez ou vinte anos, mas, em tese, pela eternidade afora. Isso,
obviamente, é impossível, mas eles desenvolveram técnicas que podem
estender muito o tempo de vida normal das peças, pensando que um acervo
não deve servir somente à geração que o constituiu, mas a várias
gerações à frente. Para efeitos práticos, deve-se prever pelo menos um
período futuro de cem anos quando pensamos em conservação, mas os
conhecimentos atuais permitem uma extensão ainda maior, e de fato todos
os meios devem ser empregados para que as coleções durem muitos séculos,
já que elas são tão valiosas para a sociedade.
34 24
Restauradores do Museu Nacional de Varsóvia
É preciso lembrar que o tratamento que as obras de arte ou outros
objetos que possuímos em nossas residências recebem é radicalmente
diverso daquele que recebem em um museu moderno, onde é obrigatório se
pensar sempre a longo prazo. Em um museu, por questões de segurança e
conservação, quanto menos pessoas tiverem acesso direto às obras,
melhor; quanto menos elas forem manipuladas e expostas, melhor, e em
todos os casos, somente pessoal especialmente treinado as toca e
manipula, seguindo procedimentos padronizados internacionalmente.
34 24
As condições ambientais da RT devem ser constantes, com monitoramento
diário, e não se pode enfatizar demais a importância de um ambiente
climatizado estável na conservação de peças musealizadas. A experiência mostra que mudanças de
temperatura e
umidade relativa do ar
são altamente desestabilizadoras para a estrutura física e química das
peças, especialmente em países cujo clima é sujeito a grandes variações.
Desta forma, as mudanças ambientais devem ser evitadas a todo custo, e
especialmente as súbitas, que sobre materiais especialmente frágeis
podem produzir um efeito devastador em questão de minutos. A cada 10°C a
maioria das
reações químicas
nos materiais duplica sua velocidade, e consequentemente a degradação
que produzem, mas cada tipo de material tem um desempenho específico.
Tome-se como exemplo o comportamento do papel de jornal: mantido a uma
umidade estável de 50% e a uma temperatura estável de 20°C, sua
expectativa de vida chega aos 45 anos, mas se a temperatura for reduzida
para 12°C, mantendo-se a mesma umidade de 50%, teria sua expectativa de
vida aumentada para 225 anos.
Fotografias
coloridas, por sua vez, exigem temperaturas de 2°C e umidade a 30%.
Para acervos mistos uma temperatura entre 17 e 20°C e umidade entre 30 e
50% são aceitáveis. A flutuação diária permitida fica em torno de 2°C
na temperatura e de 5% na umidade, mas vários autores recomendam níveis
de flutuação ainda menores, pois as variações são mais danosas do que
níveis absolutos extremos. Entretanto, estes também devem ser evitados.
Em combinação com alta umidade as reações se tornam ainda mais rápidas.
Temperaturas e umidades baixas, desta forma, são em geral preferíveis.
Por outro lado, alguns materiais não toleram bem temperaturas muito
frias, outros não resistem em umidades muito baixas. É portanto
necessário um conhecimento aprofundado sobre o comportamento dos
variados materiais que compõem determinado acervo a fim de estabelecer
parâmetros de conservação adequados a cada caso.
35 36 37
A
iluminação
também é causa de grande degradação de certos materiais, tanto pela
intensidade como pela duração da exposição à luz e pelo tipo de
radiação, e por este motivo é estritamente controlada. Esta questão se
torna especialmente relevante nas mostras públicas de longa duração,
devendo-se evitar ao máximo fontes emissoras de
radiação ultravioleta
- a maior causa de danos pela luz - ou usando filtros, e adequando os
níveis de iluminação para as necessidades de cada tipo de material
exposto. Por exemplo, têxteis coloridos e papéis só admitem iluminação
muito fraca, no máximo de 50
lux.
Peças construídas inteiramente em metal, pedra ou vidro, por outro
lado, são na maior parte das vezes praticamente imunes aos efeitos da
luz e admitem iluminação abundante - salvo se apresentarem
pigmento
superficial. É importante entender que a iluminação exerce seus efeitos
deletérios sobre os materiais sensíveis desde o primeiro instante de
exposição, ainda que a deterioração possa não aparecer de imediato, e
tais efeitos são cumulativos e irreversíveis.
38 39 40
A
conservação preventiva e o restauro
são, em todos os casos, sem exceção, trabalhos para um profissional
especializado, pois trata-se de atividades científicas de grande
complexidade, requerendo amplos conhecimentos de física, química,
biologia, estética, história, e uma grande variedade de campos
diferentes de saber conforme sua especialização e a área de atividade de
sua instituição. Este profissional, o conservador/restaurador, além de
desempenhar suas tarefas específicas - quais sejam: prevenir danos e
repará-los quando surgirem - participa da administração do museu
contribuindo decisivamente na elaboração da política de aquisições de
novas peças e na definição dos programas de climatização e segurança da
casa. Entre os problemas mais frequentes com que se deparam os
conservadores/restauradores estão o envelhecimento natural de cada
material, danos oriundos de
acidentes,
sinistros,
vandalismo, climatização inadequada ou
poluição, e ataques de agentes biológicos como
fungos,
roedores,
traças e
cupins.
Nenhuma peça é restaurada por pessoa desqualificada, ou que tenha feito
algum "curso rápido", ou que tenha aprendido suas técnicas via
internet,
pois na vasta maioria dos casos ela produz mais danos do que
benefícios, e danos muitas vezes irreversíveis. Muitos museus pequenos
não contam com um restaurador em seu quadro, e se torna assim necessária
a contratação externa deste serviço. O restaurador deve ser escolhido
por sua reputação, credenciais e currículo, que devem ser checados pela
administração do museu com cuidado.
37 40 24
Segurança
Dado o alto valor monetário de muitos acervos, os especialistas
desenvolvem constantemente novas estratégias de segurança, e não é raro
que haja segurança armada dentro das galerias; mesmo assim, as notícias
de
roubo,
furto ou
depredação
de objetos colecionados são comuns. Os museólogos recomendam que o
museu elabore um completo programa de segurança que envolva todos os
funcionários mas permaneça sigiloso para o público, e que inclua a
proteção dos itens nos depósitos, galerias e viagens contra roubos,
furtos,
vandalismo,
acidentes e
sinistros,
e preveja as medidas a serem tomadas em casos emergenciais. Museus bem
amparados financeiramente podem instalar sofisticados sistemas de
segurança, que incluem
circuito interno de TV,
detectores de metais nas entradas e saídas, detectores de
incêndio e
alagamento,
sensores de movimento e vários tipos de
alarmes,
além de um corpo de segurança especialmente treinado de prontidão 24h
por dia. Nos problemas de segurança relativos ao público em geral, um
dos que mais se destaca é o vandalismo involuntário. Muitas vezes,
desinformadas e apenas por curiosidade, as pessoas tocam nas peças
expostas, mas muitas delas podem ser extremamente frágeis, e não
suportam toque ou manuseio; outras, mesmo resistentes, se impregnam das
sujidades, suor e gordura das mãos que as tocam, o que se torna muito
grave para a conservação do material se o toque for repetitivo; ou podem
ser vítimas de acidente: um escorregão basta para um desastre, onde não
só a peça pode se danificar de modo irremediável, como a pessoa
envolvida, se ferir com gravidade. Algumas peças de
arte contemporânea, ou as de museus com acervos interativos, por outro lado, podem ser tocadas, geralmente sob a supervisão de um monitor.
41 42 24 Por outro lado, o vandalismo intencional de patrimônio público ou privado é crime, e é punido pela lei.
43
Exposição e ação educativa
Ação educativa dirigida a escolares em uma exposição
A exibição de um acervo é um processo tão complexo quanto sua
conservação no depósito, envolve direta ou indiretamente todos os
funcionários da instituição, mas é praticamente a única parte das
atividades museais que o grande público pode conhecer, e por isso
constitui o cartão de visitas do museu. Além disso, o contato direto com
as peças é o momento maior em que se efetiva a verdadeira educação do
público, a qual se constitui num dos objetivos primários da exposição e
do próprio museu. Isso posto, a tendência atual é de que todas as
exposições sejam organizadas com objetividade e clareza, sob um
planejamento curatorial decididamente voltado para a educação,
devidamente identificando as peças e contextualizando o material exposto
com informações ricas e exatas, mas acessíveis ao visitante médio, e
providenciando ações educativas complementares variadas. As exposições
podem ser de longa duração, de curta duração, virtuais, ou extra-muros,
onde se incluem as itinerâncias.
44
Uma mostra, para ser culturalmente bem sucedida, não pode ser
improvisada, na verdade uma exposição memorável, que justifique os
altíssimos gastos públicos com os museus, é um trabalho coletivo de
grande escala, longo alcance e de cunho científico, e implica muita
pesquisa cultural, produção de materiais acessórios como publicações, e
minucioso planejamento
logístico, incluindo roteiro de
marketing e divulgação na
mídia,
um processo iniciando meses, ou até anos, conforme o porte da mostra,
antes da data de inauguração, e continuando por algum tempo depois no
processo de avaliação de resultados. Requer do museu também um bom
conhecimento do perfil do seu público - e para isso são úteis pesquisas
de opinião e estatísticas -, sem desconsiderar as exigências de uma
proposta pedagógica de alto nível. Museus com boa infraestrutura já
produzem catálogos ilustrados e materiais gráficos e informativos para
cada exposição, e mantêm
websites com rico material disponível para consulta
online;
têm departamentos especiais para ação educativa, articulação com
escolas e instituições culturais, acolhimento do visitante e
monitoramento da visitação, oferecendo diversas opções de atividades
paralelas, como oficinas, palestras, teatro, concertos, visitas guiadas,
etc., e também fazendo programações diferenciadas para públicos
particularizados, como estrangeiros, escolares, pessoas com necessidades
especiais, crianças/adultos, leigos/especialistas, etc.
45 46 47
Faz parte dos programas educativos de muitos museus dar orientação ao
público não só sobre o valor cultural dos acervos expostos, mas também
sobre regras básicas de comportamento durante as visitas, o que
usualmente inclui vários interditos, como a proibição de comer, beber,
fumar, gritar, correr pelas salas, tocar nas peças, carregar sacolas,
bolsas e objetos volumosos, fotografar, deixar crianças pequenas
circularem desacompanhadas, etc. Essa regulamentação pode às vezes
parecer rígida demais, mas se destina à proteção do acervo tanto como
das pessoas que o vão conhecer. Porém os museus podem estabelecer seus
próprios códigos de
etiqueta para os visitantes, que são publicados em seus websites para conhecimento prévio dos interessados.
48 49
A exposição requer em linhas gerais os mesmos cuidados aplicados para
o armazenamento dos itens na Reserva; na verdade, a sala de exposição
deve ser concebida quase como uma segunda Reserva Técnica, de uso
temporário, já que nada adianta se conservar um acervo com todo o
cuidado na RT e em seguida transportá-lo para uma galeria onde
enfrentará penosamente as oscilações do clima. A climatização nas
galerias, por isso, se aproxima à da Reserva e funciona 24h por dia.
Exposições de longa duração podem ser particularmente problemáticas pela
continuada exposição das peças à luz e a condições ambientais tornadas
instáveis pelo afluxo variável de público, cujos corpos emitem
consideráveis quantidades de umidade e calor. Museus que guardam acervos
de objetos especialmente sensíveis podem ser obrigados a montar
exposições frias ou penumbrosas demais para o gosto do público.
38 39 40
Os museus no Brasil
Vista do Museu Nacional de Belas Artes em fotografia de
Marc Ferrez. Atualmente árvores ocultam boa parte da fachada
Durante o
período colonial podemos citar a experiência da
Casa dos Pássaros. A instituição procedia a
taxidermia de
aves para instituições no reino. Com a
transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821), estabeleceu-se uma nova dinâmica no surgimento de instituições culturais:
Após a
Independência, novas instituições foram fundadas:
Finalmente, no período Republicano, destacam-se a criação:
- em 1906, do Museu Municipal de Iguape
- em 1922, do Museu Histórico Nacional
- em 1932, do curso de Museus
- em 1934, da Inspetoria de Monumentos Nacionais50
- em 1937, do Museu Nacional de Belas Artes
- em 1938, do Museu da Inconfidência
- em 1940, do Museu Imperial
- em 1941, do Museu de Arte Brasileira; acoplado às dependências da FAAP
- em 1947, do Museu de Arte de São Paulo
- em 1948, do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- em 1954, do Museu de Arte do Rio Grande do Sul
Mais recentemente, na década de 1960, destacaram-se a criação do
Museu Villa-Lobos e do
República (1960), além de inúmeros museus militares e municipais, e do
Museu Lasar Segall (1967).
Em
2002 foi inaugurado o
Museu Oscar Niemeyer na cidade de
Curitiba.
Em março de
2006 inaugurou-se o
Museu da Língua Portuguesa em
São Paulo, um museu interativo sobre a língua portuguesa localizado na cidade com o maior número de falantes do idioma no mundo.
Em
4 de novembro de
2006 foi inaugurado experimentalmente o
Museu TAM na cidade de
São Carlos e inaugurado oficialmente em
13 de junho de
2010.
Bibliografia
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- Ir para cima ↑ A Inspetoria foi antecessora do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), criado em 1936, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Ver também
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