5. Gramática
O termo gramática
admite, pelo menos, três definições:
a) a sistematização dos
fatos linguísticos, abarcando a fonologia, a morfossintaxe e a semântica,
conforme um determinado modelo (tradicional, estrutural ou
gerativo-transformacional);
b) o conhecimento
linguístico que todo falante nativo tem a respeito de sua língua, isto é, um
conjunto de regras de número limitado, que fornecem meios para que
o indivíduo possa
produzir todas as orações possíveis da língua;
c) um conjunto de
regras - um compêndio de gramática - que tem por objetivo divulgar princípios
para que o falante possa falar e escrever corretamente. É a
gramática divulgada na
escola, a fim de distinguirmos o que é considerado correto daquilo que é tido
como incorreto.
Por tradição, divide-se
o estudo da gramática em quatro partes:
Fonética e fonologia
(o sistema de sons);
Morfologia
(as formas e a formação
das palavras);
Sintaxe
(a inter-relação das
palavras na frase e das frases no discurso);
Semântica
(o significado das
palavras e suas mudanças).
Bühler (1961) e
Jakobson (1969) sistematizaram os diferentes fins aos quais se destinam as
mensagens da língua, isto é, as funções da linguagem. Considerando
os elementos envolvidos
na comunicação linguística, os autores apontaram uma proposta a respeito das
funções da linguagem.
As funções da linguagem
correspondem às diversas finalidades que caracterizam um enunciado linguístico.
A linguagem desempenha a sua função de acordo com a
ênfase que o emissor dá
à mensagem. Conforme o foco se volte ao emissor, ao receptor, ao contexto, ao
código, ao contato ou à mensagem, a função será,
respectivamente,
emotiva, conativa, referencial, metalinguística, fática ou poética.
1. Função emotiva
Na função emotiva
predominam enunciados que expressam, principalmente, a atitude de quem fala com
relação àquilo de que fala. É a função na qual o próprio
emissor coloca-se como
foco de atenção da mensagem:
O sono está perdido.
Sinto-me um pouco só. Acho que estou carente. Pego o telefone. Talvez seja bom
falar com alguém. É muito tarde. Vou fazer um suco de
amora. Colhi amoras do
quintal da vizinha.
Admito que ela é atraente. Acho que vou convidá-la para um cineminha. Devo
acordar cedo, mas o sono não chega. Vou ler um pouco ou ouvir
música. Mozart é
relaxante...
2. Função conativa
Na função conativa
predominam os enunciados que visam a atuar sobre o destinatário da mensagem. É
a função que apresenta o receptor como foco de atenção.
Um exemplo típico da linguagem
conativa é o texto publicitário, no qual predomina a tentativa de persuasão:
Há quanto tempo você
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3. Função referencial
Na função referencial
predominam as mensagens centradas no referente ou contexto. É a função que
apresenta o referente como foco de atenção. No texto
informativo,
jornalístico ou científico, predomina sempre a função referencial. Suas
características são objetividade e clareza:
A II Guerra foi a
guerra da sociedade industrial, no que
ela tem de mais
avançado e mais tenebroso. O computador,
o avião a jato, o
tecido sintético, o radar e o foguete
balístico fora
inventados ou desenvolvidos em função
do conflito. O medo de
que os nazistas chegassem lá
primeiro levou os
Estados Unidos a fabricar a bomba
atômica, que seria
jogada sobre Hiroshima e Nagasáki
para encerrara guerra
com o Japão.
4. Função
metalinguística
Na função
metalinguística predominam os enunciados em que o código se constitui objeto de
descrição. É a função na qual o próprio código aparece em destaque.
Ocorre metalinguagem
quando um texto discute a linguagem, quando um filme revela implicações
técnicas, artísticas ou pessoais do cinema ou do próprio filme,
quando um poema se
concentra na própria criação poética etc. Todo discurso acerca da língua, bem
como as definições dos dicionários ou as regras gramaticais
são exemplos típicos da
função metalinguística:
Toda gente sabe que a
língua é variável. Dois indivíduos
da mesma geração e da
mesma localidade, que falam
precisamente o mesmo
dialeto e frequentam os mesmos
círculos sociais, nunca
estão propriamente a par de seus
hábitos linguísticos.
Investigação minuciosa da fala revelaria
inúmeras diferenças de
detalhe - na escolha do vocabulário,
na estrutura das
sentenças, na relativa frequência com que
são usadas certas
formas ou combinações de palavras,
a pronúncia...
5. Função fática
Na função fática
predominam mensagens que têm por objetivo principal iniciar uma conversa,
atrair a atenção do receptor, verificar sua atenção, prolongar a
comunicação, ou, até
mesmo, interrompê-la:
Bom Dia! Como vai você?
Crianças! Atenção por
favor!
Vocês estão prestando
atenção?
Bem! Diante dos fatos,
o que você me recomenda?
Por favor, pare de
falar!
São exemplos típicos
desta função a linguagem de cumprimentos ou saudações, as primeiras palavras de
quem aborda um interlocutor, as tentativas de testar o
nível de atenção dos
nossos receptores, as primeiras palavras de quem atende ao telefone etc.
6. Função poética
Na função poética
predominam os enunciados cuja mensagem se acha centrada em si mesma. É a função
na qual a própria mensagem é colocada em destaque:
Amanheceu pela terra
um vento de estranha
sombra,
que a tudo declarou
guerra.
Paredes ficaram tortas,
animais enlouqueceram
e as plantas caíram
mortas.
O pálido mar tão branco
levantava e desfazia
um verde-lívido flanco.
Das linhas claras da
areia
fez o vento retorcidas,
rotas, miseráveis
teias.
..........
(Cecília Meireles)
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