Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Simplificação do retrato imaginado de
Ricardo Reis. Esboço de Cristiano Sardinha.
Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos quatro
heterónimos mais conhecidos de
Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio
à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no
Porto, estudou num colégio de
jesuítas, formou-se em
medicina e, por ser
monárquico, expatriou-se espontaneamente desde
1919, indo viver no
Brasil. Era
latinista por formação clássica e
semi-helenista por
autodidactismo. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto
José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro
O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis em 1936.
Biografia
Carta astral de Ricardo Reis.
Nascido no Porto, no dia 19 de Setembro de 1887. Recebeu uma forte
educação clássica num colégio de jesuítas e formou-se em Medicina,
profissão que exerce. Vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou
espontaneamente por ser monárquico, na sequência da derrota da rebelião
monárquica do Porto contra o regime republicano. É um latinista por
educação, e um semi-helenista por educação própria.
[1]
Obra
As primeiras obras foram publicados em 1924, na revista
Athena, fundada por
Fernando Pessoa. Mais tarde foram publicados oito odes, entre 1927 e 1930, na revista
Presença, de
Coimbra. Os restantes poemas e prosas são de publicação póstuma.
Temas
Reis, também discípulo de Caeiro, admira a serenidade e a calma com que este encara a vida
[2], por isso, inspirado pela clareza, pelo equilíbrio e ordem do seu espírito clássico greco-latino,
procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, através da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas:
Doutrina baseada num ideal de sabedoria que
busca a tranquilidade da alma através das seguintes regras:
- Não temer a morte - Levando o poeta ao Fatalismo, tendo a morte como única certeza na vida.
- Procurar os simples prazeres da vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro (carpe diem),
mas sem excessos - Deste modo aprende a viver cada instante como se
fosse o último; e faz da vida simples campestre um ideal (aurea mediocritas);
- Fugir à dor - Como defesa contra o sofrimento, sobrepõe a razão sobre a emoção;
Doutrina que tem como ideal ético a
apatia - ausência de envolvimento emocional excessivo que permite a liberdade – , e que propõe as seguintes regras para
alcançar a felicidade (relativa, pois não pretende um estado de alegria mas sim de um contentamento inconsciente):
- Dominar as paixões – Suscita uma atitude de
indiferença; Recusa o amor para evitar ter desilusões, de modo a que
nada perturbe a serenidade e a razão, e porque este é uma inutilidade e
está já condenado, uma vez que tudo na vida tem um fim;
- Aceitar a ordem universal das coisas, incluindo a morte - Revela a faceta conformista, considerando a vida como efémera, um fluir para a morte e essa consciência não lhe gera nem angústia nem revolta.
Porém, Reis
admite a limitação e a fatalidade desta condição humana,
e pretende chegar à morte de mãos vazias de modo a não ter nada a
perder; e inspirado na mitologia clássica, considera a vida como uma
viagem cujo fluir e fim é inevitável.
Estilo
Poesia com muitas alusões mitológias, com uma linguagem culta e
precisa, sem qualquer espontaneidade. Estilo neoclássico influenciado
pelo poeta latino Horácio, com utilização frequente da ode. Uso de um
vocábulo culto e alatinado com O principal recurso ao
hipérbato.
Emprego do gerúndio e do imperativo (ou conjuntivo com valor de
imperativo) com carácter exortativo, ao serviço do tom sentencioso e do
carácter moralista presentes nos seus poemas.
Quadro-Síntese
Fresco de Francisco Bayeu
Aspectos temáticos |
Aspectos formais |
Harmonia entre o epicurismo e o estoicismo; |
Uso de vocabulário erudito e preciso; |
Autodisciplina, renunciando às fortes emoções; |
Recurso a arcaísmos; |
Procura da ataraxia; |
Formas estróficas e métricas de influência clássica – Ode. |
Renúncia da vida através da recusa do amor e da consciência da inutilidade do esforço de mudança; |
Influência latina através da anástrofe e do hipérbato; |
Elogio do carpe diem; |
Predomínio da subordinação; |
Elogio da vida campestre (aurea mediocritas); |
Uso frequente de advérbios de modo; |
Fatalismo – o destino é força superior ao homem; |
Recurso ao gerúndio; |
Aceitação calma do destino; |
Uso do imperativo como manifestação de atitude filosófica; |
Obsessão da efemeridade da vida; |
Diálogo permanente com um "tu" – coloquialidade. |
Consciência da fugacidade do tempo; |
Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo; |
Neopaganismo – os deuses também estão sujeitos ao Fado e alusões mitológicas; |
Intenção didáctica dos seus versos; |
Elogio à carência das ideias dogmáticas e filosóficas como meio de manter-se puro e tranquilo; |
Excertos de algumas das suas obras
Assinatura de Ricardo Reis.
- "Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
- Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
- Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
- Ouvindo correr o rio e vendo-o." (1914)
- "Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
- Com um púcaro de vinho
- Ao lado, e atentos só à inútil faina
- Do jogo do xadrez" (1916)
Outros heterónimos
Ver também
Referências
Bibliografia
- Pessoa, Fernando. Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação (em Português). [S.l.]: Ática, 1996.
- Lopes, Teresa Rita. Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa (em Português). [S.l.]: Estampa, 1990.
- Coelho, Jacinto do Prado. Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (em Português). [S.l.]: Verbo, 1998. ISBN 9789722203296
Leituras Adicionais
- Saramago, José. O Ano da Morte de Ricardo Reis (em Português). [S.l.]: Caminho, 1984.
Ligações externas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.