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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CRÔNICA DE BOLA

A Bola, de Luis Fernando Verissimo

           O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.

            O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando não gostam do presente ou não querem magoar o velho.
            Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
            - Como e que liga? - perguntou.
            - Como, como é que liga? Não se liga.
             O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
             - Não tem manual de instrução?
            O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.
            - Não precisa manual de instrução.
            - O que é que ela faz?
            - Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
            - O quê?
            - Controla, chuta...
            - Ah, então é uma bola.
            - Claro que é uma bola.
            - Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
            - Você pensou que fosse o quê?
            - Nada, não.
            O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente.
           O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina. O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
           - Filho, olha.
           O garoto disse "Legal" mas não desviou os olhos da tela.
           O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada.
           Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.

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É O QUE TEM PRA HOJE: "POUCO PAPO E SÓ... SU-CEEEEEEES-SO!!!"



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